terça-feira, 26 de janeiro de 2010

"Contos"



A partir de hoje colocarei mensalmente um conto aqui no blog para que possamos refletir sobre vários assuntos.
Espero poder contar com seus comentários que muito valorizarão este espaço.

O primeiro conto segue abaixo e para não entregar o ouro de cara eu o chamei de "Lúcia"

Então Sras e Srs boa leitura.

LÚCIA

- Ssshhiiiiiii!!!!

É hora de dormir mocinha, já está ficando tarde e você tem escola amanhã cedo. Certo?

- Tá mamãe.

- Marta botou Lúcia, sua filha de cinco anos, para dormir enquanto seu esposo jantava na sala ao lado depois de um dia intenso de trabalho.

Ela olhava a pequena Lúcia dormindo e lembrava que há muito tempo atrás as coisas não iam nada bem para uma garotinha da idade dela

Eram lembranças dolorosas dos tempos infantes.

Foi difícil para ela confiar novamente em um homem. E na realidade ainda não sabia se confiava por completo.

Aliás, o Franco poderia ser chamado de herói.

Poderia...

Franco era o seu esposo e havia conseguido o feito de conquistar o coração de Marta. Trabalhava duro como treinador de um time de futebol de meninas de categoria mirim.

Mas Marta não via a profissão do marido com bons olhos. “Se ao menos fosse um time de garotos...”

Não se tratava de ciúmes, ela tinha lá seus motivos...

...mesmo que as meninas não tivessem mais de doze anos.

No passado Marta viveu um trauma muito profundo e até hoje se perguntava como alguém podia ser capaz de maltratar um ser tão indefeso como uma criança do tamanho de Lúcia?

Às vezes Franco lembrava muito seu pai. Um homem alto e com um biótipo avantajado e movimentos fortes. A não ser pela doçura que seu marido tinha nos olhos e a paciência no trato, eram idênticos.

Eles se conheceram num domingo a tarde durante um churrasco na casa de uma amiga em comum e algumas conversas depois apaixonaram-se.

Marta diz que não sabe como pode ter acontecido.

Como quem acorda de um sonho ela percebeu que Lúcia adormecera...

Os dias passavam, mas as feridas no intimo de Marta pareciam nunca sarar. Ela nunca esqueceu como seu pai havia sido monstruoso com ela e não concebia a hipótese de acontecer o mesmo à pequena Lúcia.

Seu drama só parou quando seu pai foi brutalmente assassinado num assalto quando ela tinha sete anos, mas os traumas continuavam em suas lembranças até hoje.

Somente não entendeu por que o assaltante levou apenas um relógio velho dele e o matou mesmo não tendo reagido ao assalto.

Também não entendeu o porquê de não ver uma lágrima sequer no rosto da mãe durante todo o velório e enterro.

Marta havia sido molestada vezes e mais vezes pelo próprio pai e isso tudo começou quando ela tinha apenas cinco anos de idade, a mesma que sua filha Lúcia tem agora.

De alguma forma a morte dele trouxe um alívio, pois se sentiu liberta daquela tortura, mas, era seu pai...

Numa noite dessas frias e secas, ela acordou ao ouvir a voz de Lúcia lhe chamando.

Não encontrou o marido ao seu lado na cama e partiu desesperada ao quarto da menina.

A cena tenebrosa era clara...

Ela viu a silhueta de Franco contra a luz da lua na janela segurando a menina.

- Franco!

- Assustado, ele colocou-a na cama e saiu com Marta.

- Shiiiiii!!! Fale baixo para não acordá-la! - O pai cochichou...

- Tremula e suando muito ela perguntou:

- O que houve?

- Eu a ouvi te chamando e fui ver o que havia. Cheguei ao quarto um minuto antes de você chegar e ela estavam dizendo: “Mamãe, Papai. Eu os amo muito!” – Quase chorei, mas ai você chegou e eu não quis te assustar...

- Porquê vocês está tão nervosa?

- Não é nada, apenas me assustei, pensando que a Lúcia estivesse com algum problema.

- Foram deitar e adormeceram naquela noite de sábado.

No domingo pela manhã Marta resolveu fazer uma surpresa ao marido.

Resolveu ir até a Igreja onde ele muitas vezes a convidara.

Mas chegando lá ela teve a surpresa.

Viu seu esposo ao microfone falando algo que ela ainda não estava entendendo. Encontrou um lugarzinho discreto e começou a ouvi-lo.

- Esta noite eu tive a melhor das noites da minha vida. Na madrugada minha filha sonhava e chamou por mim e minha esposa.

Assustado, fui até seu quarto e encontrei-a sonhando e dizendo que nos amava muito.

Depois de tranquilizar minha esposa voltamos a dormir, foi ai que tudo começou.

Eu tive um sonho. Estávamos eu e minha filha num lugar muito sóbrio e pessoas com olhos maus transitavam ao nosso redor. Minha filha dizia que estava com medo e eu a coloquei nos braços tentando tranquilizá-la.

De uma hora para outra, a minha filha estava nos braços de um homem, que não conseguia ver o rosto, pois estava tudo muito escuro. Só via que ele tentava tirar as roupinhas dela. Imaginei que ele quisesse violentá-la e eu não pude intervir. Foi quando eu gritei: “Senhor me ajude a cuidar da minha filha!”

Então um homem chegou e colocou a mão sobre o meu ombro e disse: “- Filho, a partir de agora eu estarei todos os dias com você e com Marta para cuidar da pequena Lúcia.

E quando ela crescer, você será o exemplo de marido e pai que ela terá.”

Enquanto ele ia embora eu tinha minha filha sorrindo novamente em meus braços.

Eu gritei perguntando seu nome, ao que ele virou acenando para mim e disse:

“Emanuel Jesus!”

- Em prantos e incontrolável Marta desceu as escadas em direção ao marido que também se encontrava às lágrimas, ela lhe pediu perdão pelo mal juízo e os dois se abraçaram ali.

E desde o dia em que Marta conheceu Emanuel Jesus, nunca mais ela sentiu as dores do trauma sofrido na infância e pela primeira vez sentiu tristeza pela morte do seu pai perdoando-o, e dos seus crimes ela não lembrava mais.



By: Killinho - Pensando.

Editado por: Rakelly Nogueira

2 comentários:

  1. Chegando agora por aqui...
    adorei esse conto...nos ensina a acreditar nas pessoas e a olhá-las com os olhos de cristo!!
    Ps: Muito lindo!!!

    ResponderEliminar
  2. é realmente interessante, não esperava este final, estava imaginando o q se vê todos os dias na tv.

    ResponderEliminar