sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Livro da Sabedoria







Já faz muito tempo. Um garotinho muito educado tomava nota de todos os ensinamentos que seu pai lhe transmitia.




Estes eram passados com muita calma e amor pelo seu velho e o garotinho sempre com seu livro inseparável fazia ali seus rabiscos e desenhos, quem sabe para a melhor compreensão dos ensinamentos.


Naquela terra, que fica muito, muito distante daqui. Há uns dez minutos ao passo de um pensamento. Onde a mente viaja sobre a relva de um campo verde de grama fofinha.


Foi lá que este menino foi se desenvolvendo, até que chegou o dia em que seu pai se foi.


Lá os velhos não ficavam para morrer junto das suas famílias. Quando eles sabiam que chegara a hora, simplesmente iniciavam uma longa viagem.

Entendia-se neste lugar que era para que a tristeza não chegasse ao rosto de uma criança.

A realização de um velho pai era saber que seu filho aprendeu seus ensinamentos e os guardou em prática para repassar ao seu filho.

Os anos foram passando e aquele garoto se tornou um jovem. Ele conheceu uma moça e se casaram.

Ele tornou-se um homem importante na comunidade e tiveram um filho. Um único filho, que ele ansiava por chegar o momento de iniciar a transferência de seu aprendizado para aquele que seria sua posteridade.

Havia outro costume naquela cidade que dizia que quando chegasse a hora o pai sabia, e antes de partir na sua jornada, queimaria o seu próprio livro sobre a pedra da esquina principal.

Ali naquela pedra, anos atrás, ele se despedira do seu velho pai, e após sua partida o pequeno rapaz recebeu a promessa de uma descendência farta e sábia. A isto ele se agarrou com todas as suas forças.

Os anos se passaram, o garoto aprendeu a escrever e o pai lhe deu de presente um belo livro em branco, onde ele escreveria cada vírgula da sabedoria de vida transmitida por seu velho pai.

Assim o pai se empenhou em lhe passar os mais valiosos conceitos de vida, saúde, moral, ética, amor, educação, carinho e tantos outros...

Mas a triste constatação era que o garoto nada escrevia.

O pai acompanhava, mas não queria indagá-lo para não piorar ainda mais sua inibição. A verdade era que o menino não se interessava em nada daquilo e relutava contra o crescimento investido pelo pai, que por sua vez apenas entregava seu filho nas mãos de quem lho prometera.

Os anos passaram e o menino se tornou um homem, mas nenhuma linha havia sido escrita.

Numa manhã o seu pai anunciou que havia chegado a hora e ele iria partir.

O filho com o coração partido perguntou aos prantos, por quê? Por quê ele não poderia ficar? Ao que o pai respondeu:

- Filho, se você tivesse ouvido as palavras do seu velho e as tivesse guardado em segurança saberia o por quê deste momento e a dor seria alegria agora. Mas ainda que tarde saiba que eu vou, mas o que é meu continuará sempre sendo seu.

O pai beijou a testa daquele filho e se foi.

Ao passar pela pedra da esquina principal, abriu o casaco e depositou sobre ela o seu livro.

Com olhos despejando as lagrimas de amor pelo filho, mas confiantes na promessa, arremessou o fogo ao chão e não queimou o livro.

Quando todos viram o velho sumir na colina voltaram para seus afazeres, inclusive o filho.

Ele, o pai, sabendo que estava protegido dos olhos de todos pela distância da colina, parou em seu pico e começou a observar o livro sobre a pedra.

Quantas lembranças passavam em sua mente...

No momento seguinte ele vê seu filho, banhado em lágrimas chegar até o livro, sentou-se ao lado da pedra e começou sua leitura.

Dentro do livro ele encontrou uma carta do velho pai que dizia:

“Meu filho, o que é meu continuará sendo teu. Aproveite a sabedoria que teu pai te deixa e nunca se apartes do conhecimento que te dou. Porque o Deus que me deu você é fiel e te guardará todos os dias da tua via. Eu sabia que a promessa iria se cumprir. Do teu pai que te ama muito aqui de cima da colina.”

O filho levantou os olhos e viu o pai acenando e finalmente continuar sua viagem.

Podemos ver a promessa de longe, de cima de uma colina, mas ainda que não a toquemos, ela se cumprirá.




Killinho

1 comentário:

  1. Muito bom, nesses poucos paragrafos nota-se que vc tem capacidade de criar uma ficção muito boa!

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