
Parei no imaginário num dia de tribunal formado.
Vi a testemunha, o advogado, o promotor e o marginal
Mas algo me mostrou o que realmente importava
Vi o Juiz caminhando bem solene que estava
Pelo corredor na direção que ninguém imaginava
O que o levou a fazer tal, numa ação tão perene?
Era o próprio magistrado, caminhando firmemente
Abraçado e chorando pelo famigerado delinquente.
Era fácil para os iguais dar ali o veredicto
O ladrão, traficante, que nem era tão bonito
Tinha feito o mal-feito, pelas horas da madrugada
Coisa que nem se conta e fica o dito pelo não dito
E durante o dia inteiro ainda outras que nem de longe
Qualquer malvado ache bonito.
Para qualquer um ali a condenação era certa
Bastava então bater o martelo que a “justiça” era completa.
Os jurados se contorciam cada um em sua cadeira.
Avexados pra dar o recado, tudo arrumado em fileira
Eram: Maria Fuchiqueria, Zé do Oio Grande,
Marisa Pé de Calçada, Mané da Peixerada
Um casal de amancebado, e até Zezin, apelidado de Tiquin
Filho de uma Fulera...
Tava tudo aperreado com o choro do juiz.
Nem que fosse fí dele! gritou qualquer infeliz;
Nesse instante entrou um tal pela porta lateral
Que era cagado e cuspido a cara de Vossa Excelência
Mas, sem terno, sem gravata, que dos granfinos é normal
O rapaz veio algemado que só um Judas lapiado
Tava todo sujo o coitado, parecia um marginal
Quando o pai viu a cena, num instante voltou ao normal
Todo mundo achou estranho e difícil o entendimento
Mas sem fazer questionamento, prosseguiu-se o julgamento
Antes da respiração ouviu-se a batida do martelo
O meu filho condenado, à morte pelo cutelo
O acusado e culpado eu o dô por inocente
Ainda passo a vocês a credencial e a toda gente
Que homem que hoje morre não sem dor em seu pai
Faz isso por amor porque de sua majestade sai
Disse isso o magistrado e ouviu o povo todo calado
Porque ali em justiça todo erro foi justificado
E se fosse você no lugar do juiz, faria tudo igual?
Condenaria o seu único filho, pra livrar o marginal?
Pois foi isso que aconteceu na aurora do primeiro dia
O príncipe desceu sem olhar para o que era seu
Por que amou, a tudo ele perdeu e nem socorro queria
Apenas o olhar do Pai, aprovando sua atitude
De trazer todos de volta, a humanidade que se perderia.
Mesmo aos 33 anos perdendo em sangue a juventude.

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